Assembleia visita Mateus Leme para apurar impactos da construção de ferrovia da Cedro Mineradora

“Queremos sossego, não a ferrovia.” A frase estampada em cartazes durante manifestação de moradores de Mateus Leme resume o sentimento de insatisfação e angústia de quem vive na rota prevista para a construção do trilho ramal EF-A34, da empresa Cedro Mineração. O projeto, que recebeu avaliação da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) em março, já está gerando mobilizações e cobranças por diálogo e transparência.
Na manhã desta sexta-feira (27), uma equipe técnica da Assembleia Legislativa de Minas Gerais visitou o município para acompanhar de perto as denúncias e preocupações da população. Esta foi a segunda visita oficial da comitiva; a primeira aconteceu em Igarapé, Sarzedo e Bicas, e a terceira será em Brumadinho — todos os municípios por onde o novo trem ramal está previsto para passar.
Com cerca de 30 quilômetros de extensão, a ferrovia pretende ligar Mateus Leme a Mário Campos, facilitando o transporte de até 25 milhões de toneladas de minério de ferro por ano. A proposta da Cedro Mineração é que o ramal reduza a circulação de tráfego nas rodovias, principalmente na BR-381, causando acidentes e a emissão de carbono — com estimativa de corte de 40 mil toneladas de CO₂ por ano.
No entanto, os impactos negativos apontados pelos moradores vêm preocupados não apenas com as comunidades rurais, mas também com as entidades sociais e autoridades locais. Segundo o ex-candidato a prefeito de Juatuba, Mestre Israel, apresentado em visita à Assembleia, o traçado da ferrovia poderá afetar diretamente várias entidades e localidades importantes. “Uma aldeia indígena, uma igreja católica histórica, um centro de recuperação de dependentes químicos, duas lagoas que serão aterradas e o sistema hídrico da Serra Azul, responsável pelo abastecimento de água potável da Região Metropolitana de Belo Horizonte”, explicou a nossa reportagem.
A preocupação com o meio ambiente se soma à insegurança de centenas de famílias da zona rural, cuja agricultura familiar abastece cerca de 40% da Ceasa, segundos relatos. "Eles falam de desenvolvimento, mas não dizem quem vai sair de casa, o que será feito das nossas lavouras e das nascentes. Não é contra o progresso, é contra o atropelo das pessoas", afirmou um produtor da região.
Outro ponto criticado pelos moradores é a ausência de diálogo. Até o momento, a Cedro Mineração não realizou audiências públicas com as comunidades que serão diretamente afetadas. A comunicação, segundo os manifestantes, tem sido unilateral e sem esclarecimentos sobre desapropriações, indenizações e realocações.
A portaria da ANTT autoriza o credenciamento de imóveis necessários à implantação da ferrovia, o que abre caminho para desapropriações legais. "Não sabemos quem será atingido, quanto vai pagar, para onde vamos. É uma angústia", relatou uma moradora da região.
A Assembleia Legislativa informou que, após as visitas técnicas nos municípios afetados, será realizada uma audiência pública para ouvir todos os lados e discutir possíveis alternativas. O objetivo, segundo os parlamentares, é garantir que a população seja respeitada e que eventuais impactos negativos sejam evitados ou compensados de forma justa.
Matéria: Jornal Mateus Leme e Juatuba